Por que escrever um blog?

Uma introdução (e um convite) à blogosfera.

“Os motivos para escrever são abundantes, uma multidão de voluntários alinhados até serem notados, destacados e escolhidos. A decisão de escrever é, por assim dizer, ‘sobredeterminada’.”

Zygmunt Bauman[1]

Do manuscrito ao hipertexto

A necessidade humana de se comunicar fez com que a gente criasse diferentes formas de expressão e a escrita foi, e continua sendo, um instrumento muito importante para o nosso desenvolvimento social e tecnológico. Ela permite a transmissão de informações para além do tempo e do espaço: posso ler um texto de milhares de anos atrás, enviar uma mensagem instantânea para alguém do outro lado do mundo, assim como escrever um lembrete para que eu veja amanhã de manhã.

Mas explicar o que é escrita é mais difícil do que parece. Isso porque, desde o seu surgimento, ela teve diversas formas e funções. Compare um escriba da Mesopotâmia de c.2000 AEC, uma datilógrafa do século 19, e alguém digitando em uma prova online nos dias de hoje. Os três casos são bem diferentes, mas todos estão relacionados com a escrita. Assim, é possível definir escrita como o conjunto de signos padronizados com o objetivo de representar o pensamento humano.[2] Com a escrita, o ser humano pôde registrar a lei, a literatura, a imprensa e a ciência. E com o passar do tempo, ela foi conectando cada vez mais pessoas.

Fragmento de papiro com escrituras gregas
Fragmento de papiro com trechos da Odisseia, de Homero, uma das obras mais importantes da Grécia Antiga. Data de c.285–250 AEC. Fonte: Metropolitan Museum of Art.

No final do século XX, começou a Internet, facilitando a troca de arquivos e mensagens entre pessoas distantes. Nesse tempo, algo que merece destaque é o conceito de hipertexto: textos que fazem referências a outros textos, sem uma sequência correta para acessar. O cientista da computação Tim Berners-Lee idealizou a World Wide Web, um sistema que utiliza hipertexto para criação e consumo de conteúdo globalmente, e em 1990 publicou o primeiro website.[3][4]

Com o tempo foram surgindo páginas com diferentes tipos, mas um que se popularizou bastante foi o Weblog, mais conhecido como Blog, uma forma de registro na Web, com atualizações em ordem cronológica invertida, para que quem visitasse a página se deparasse com a última publicação.[5] Justin Hall, um pioneiro na criação de Blogs, publicou sua página, Justin's Links from the Underground, em 1994. Lá ele publicava diversas informações sobre sua vida pessoal, e nessa época já surgiam discussões, ainda relevantes nos dias de hoje, sobre o quanto você deve se expor na internet e como isso influencia o seu relacionamento com as pessoas.[4]

Tirinha com senhor lendo no computador: 'A internet está mudando as relações humanas.' / Uma mulher próxima a ele diz: 'Eu sei, Rodolfo. Você me escuta cada vez menos.' / Ele não responde e continua a leitura: 'São quase dois bilhões de pessoas conectadas'.
Quadrinhos dos anos 10. Por: André Dahmer — uso autorizado pelo autor.

No começo, era necessário conhecimento técnico para publicar páginas na Web, mas ferramentas para usuários leigos foram desenvolvidas, e elas expandiram e se popularizaram: Blogs individuais e coletivos, sobre assuntos diversos e com pessoas interagindo entre si, formaram o que chamam de blogosfera.[5] Hoje, existem mais de 600 milhões de blogs no mundo todo,[6] com várias pessoas escrevendo sobre o que gostam e querem compartilhar. E escrever, seja num blog ou não, pode acabar trazendo vários benefícios.

Motivos para escrever

Claro que os benefícios da escrita vão depender do que se escreve, do porquê se escreve, como se escreve e onde se escreve. Mas vou falar brevemente sobre três pontos que considero interessantes.

1. Saúde mental 🧠

Registrar seus sentimentos, suas metas de vida e/ou seus pensamentos pode te levar a refletir sobre como essas coisas atuam na sua vida, e o que você pode fazer a respeito, mesmo que esse registro fique acessível somente a você. Algumas pessoas preferem compartilhar experiências pessoais na internet, seja por blogs, e-mail ou em redes sociais.[7] Claro, deve-se tomar cuidado com o que você compartilha na rede, expor dados sensíveis sobre sua vida pessoal pode ser prejudicial. E a escrita, seja pública ou privada, não substitui atendimento psicológico. ⚠

2. Educação 📝

Uma ótima técnica para aprender melhor sobre algum assunto, é falar sobre ele com suas próprias palavras. Escrever ajuda você a fixar seus conhecimentos, organizar suas ideias e diferenciar o que você domina do que precisa revisar. Não é a toa que a produção de textos é bem comum em instituições de ensino, e existem projetos para que os estudantes criem seus próprios blogs para falar de alguma matéria específica. Além disso, um ambiente disponível para fazer publicações pode ser um estímulo a estudar mais sobre o tema.

3. Conexão social 👥

Encontrar pessoas que se interessem pelo que você escreve, e que talvez escrevam sobre o mesmo tema que você, é uma forma de criar novas relações saudáveis e te motivar a continuar. Hoje em dia, existem diversas comunidades, na internet ou não, de escritores. Quando se trata de blogs, podemos falar da(s) blogosfera(s): escritores de ciência, poesia, crônica, entre outros, trocam experiências e dicas através de comentários. Algumas pessoas até usam seus blogs como um portfólio para fins profissionais.

Como começar

Mesmo que você não entenda muito sobre páginas na Web, iniciar um blog pode ser muito simples, pois existem serviços acessíveis como WordPress.com, Blogger e Tumblr, onde basta criar uma conta gratuitamente e começar a escrever. No meu caso, criei esse site com uma tecnologia chamada Gatsby JS, com base em um curso do desenvolvedor Willian Justen (recomendado para quem sabe o básico de HTML, CSS e JavaScript).

Lembre-se: não se preocupe se achar que não escreve suficientemente bem. A escrita, assim como qualquer outra habilidade, é aperfeiçoada com a prática. E claro, isso não é uma competição, se escrever te faz bem, divirta-se! 😁

Referências

  1. BAUMAN, Zygmunt. Isto não é um diário. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.
  2. FISCHER, Steven Roger. História da Escrita. São Paulo: UNESP, 2009.
  3. BERNERS-LEE, Tim; FISCHETTI, Mark. Weaving the Web: the original design and ultimate destiny of the World Wide Web. New York: HarperCollins, 1999.
  4. a b ROSENBERG, Scott. Say Everything: how blogging began, what it's becoming, and why it matters. New York: Crown Publishers, 2009.
  5. a b BLOCH, Joel. Weblogs. In: LIONTAS, John I.; DELLICARPINI, Margo (Eds.). The TESOL Encyclopedia of English Language Teaching. 18 jan. 2018. Disponível em: https://doi.org/10.1002/9781118784235.eelt0459. Acesso em: 30 de dez. de 2021.
  6. BYERS, Kyle. How Many Blogs Are There? (And 141 Other Blogging Stats). GrowthBadger. 2 jan. 2022. Disponível em: https://growthbadger.com/blog-stats/. Acesso em: 11 de jan. de 2022.
  7. WAPNER, Jessica. Blogging--It's Good for You. Scientific American. 1º jun. 2008. Disponível em: https://www.scientificamerican.com/article/the-healthy-type/. Acesso em: 10 de jan. de 2022.

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